Os terreiros de religiões de matriz africanas e ameríndias são espaços sustentáveis, cuja dinâmica se baseia na educação ambiental, no desenvolvimento de processos produtivos que não causem a extinção dos recursos naturais, nas práticas integrativas de saúde e na alimentação saudável organizada coletivamente.
As comunidades de fé e seus líderes são importantes pilares da organização comunitária e constituem espaços para a promoção da cidadania, o respeito aos direitos humanos e a proteção da natureza. Essas comunidades são responsáveis pela preservação de espécies, línguas e modos de vida que, na contemporaneidade, estão ameaçados por projetos de desenvolvimento predatório, que visam romper os vínculos comunitários.
Diante da escassez de espaços verdes, da produção de muito lixo em grande parte das áreas urbanas e periféricas dos municípios, as comunidades de terreiro desempenham um papel significativo no movimento de suas atividades litúrgicas, utilizando seus conhecimentos ancestrais como metodologia de educação para o enfrentamento da crise climática e do racismo ambiental.
É comum ver o reaproveitamento de recursos naturais na organização de suas celebrações, o reflorestamento e a agricultura familiar em áreas degradadas para manter sua liturgia e garantir a segurança alimentar, bioconstruções de espaços coletivos para a promoção da saúde, educação e participação social.
A conexão entre o meio ambiente e a espiritualidade e o vínculo com a ancestralidade transformam as Casas de Oração e as religiões de matriz africana em importantes espaços para a construção da justiça ambiental, centrada na justiça racial, unindo forças com boas práticas para a preservação do nosso planeta, seja em seus espaços sagrados ou na extensão de seus templos
“NOSSO ILÊ SUSTENTÁVEL”
Traz a proposta de transformar os espaços de fé em Ecopontos, cujo objetivo é construir processos de aprendizagem para a valorização da preservação ambiental com metodologias ativas e boas práticas de ação climática.
Essas atividades têm o potencial de apresentar soluções para os dilemas de Políticas Públicas de Preservação Ambiental que não reproduzam o Racismo Ambiental com a supressão de Casas de Terreiros já muito ameaçadas por projetos de desenvolvimento que violam direitos, especialmente de pessoas não brancas.
Comunidades religiosas afro-ameríndias como espaços de educação ambiental
e organização social para enfrentar a crise climática.
Como tem sido discutido na esfera internacional, a crise climática é uma crise que aprofunda as desigualdades de gênero e raça que historicamente estruturam as relações sociais e econômicas da sociedade moderna. As mulheres negras, pertencentes a comunidades tradicionais, são as mais afetadas, pois residem em áreas de risco "à margem" das periferias urbanas e dos rios. Especialmente no Sul Global, do qual o Brasil faz parte, o conceito de racismo ambiental elucida como as comunidades negras e indígenas sofrem os danos mais severos e graves das mudanças climáticas.
Os povos de terreiro e os povos indígenas protegem as águas, a terra e a floresta como meio de desenvolvimento espiritual e humano. A centralidade das pessoas afetadas na discussão sobre as mudanças climáticas é essencial para uma construção resiliente de alternativas de adaptação e mitigação dos impactos desses fenômenos na vida dos grupos mais vulneráveis. A religião, nesse caso, é mostrada como um fator central na proteção do meio ambiente e na resposta efetiva gerada e racializada ao contexto das mudanças climáticas.